terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O grande azul...

Estrelas caem em lugares solitários trazendo, após um tempo, silêncios mortos para o além mundo.
Olho através do vidro embaçado da janela.
Há neblina lá fora. E, aqui dentro, é outono em mim.

Tudo é cinza enquanto folheias pequenas folhas,
Que caem por acontecimentos já longe de nós.

Procuramos aquela entrada, grande roda das mudanças.
Procuramos aquele belo lugar, ponto de encontro de turistas inexistentes e sem bagagem.
E ali estás: hirto e frio, enquanto repousas seu coração em águas geladas.

Olho as curvas da estrada e lembro-me daquele gris e estranho mar.
Teus olhos, há não muito, naufragaram em um mar anil de grandiosas dores e decepções.

De memórias e ódios perdidos, tu vives.
Respirando os ares de prados secos e sem vida para ti – e para o resto.
Construindo e tão logo destruindo histórias em vidas de tantas estrelas...
No fim, ilusórios são os desejos de esquecer aquele oceano frio.

És talhado sob a matéria crepuscular de todas as tristezas.
Escondes em olhos cândidos angústias maiores que as das nebulosas de todas as amigas minhas.
És origem e fim de muitas dores de constelações inteiras. E um dia, tu sabes, foste ferido também.

E tens de dormir toda noite com a culpa-dor, muitas vezes camuflada em noites em que estrelas incendeiam sob ti.
Cada dia, dores tão diferentes – doenças geradas por ti em cada um dos muitos portos pelo qual um dia, turista infeliz, passaste.

Verme insepulto de dia, borboleta negra à noite, tu consegues ainda fazer pensamentos pararem. E em almas que lhe desejam absurdamente o bem, tu inspiras a piedade de virgens que esperam o amor orando. Inspiras pena, por ser tão-somente um daqueles que desconhecem o significado dos acontecimentos.

E dos céus, algumas estrelas desejam que recebas a visita amorosa de estrelas anteriores a esse tempo, pequeninas estrelas mortas renascidas para iluminar a sua pálida existência.
Sabem elas que tu necessitas de singularidades – muito mais do que todas aquelas estrelas defuntas.

Necessitas de pequenos disparos de mundos cintilantes.
Precisas esquecer o cinzel que deturpou-lhe a alma e o coração – agora sem vida.
Precisas curar a ferida – gritar o ódio dentro de ti para conseguir mais uma vez, verdadeiramente, sorrir.

Despe a farda e vista as estradas, suas amigas ditosas.
Sepultes aquilo que há muito se foi e deixe-me, ser.

Nades para além do passado
E, no Porto Presente de chuvas horizontais,
Que o levam para tantos lugares, procures ver,
Por entre o cinza e o azul anil de seus sonhos infantis,
As cores do seu Velho Mundo.

E em novos mundos, velho pai esquecido, deixe que seu ser cansado aporte.
Faça de algum cruzamento, latitude versus longitude,
Porto mudo no mundo para sua alma desditosa...

Texto/poema dedicado a uma pessoa sem porto e sem esperança... 
que viaja pelo mundo sem cessar e sem nada encontrar...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O Mistério das Coisas

Enquanto precipitava a grande torrente, escondia-se furtivamente a pequena semente que ainda hoje guarda o segredo das multidões.
Ali perto, com sede de mais conhecer, uma pequena criança desaparecia por entre a espessa floresta.
Com seu olhar úmido, perscrutava o grande céu, berço de pensamentos imbricados em reflexões cinzentas.

“Corra sem parar e não olhe jamais para trás: uma vez que vais, não regressas mais à origem de todas as coisas.”, diziam vozes ancestrais.

***

Transmuta-se, então, devagar a casca. Depois, dolorosamente, o mundo, com seu grande cinzel, modelará o seu espírito. E, em breve, perceberás que é necessário estender as mãos e aninhar o pequeno mundo entre seus longos dedos.

***

Alguns sóis, luas e estrelas no firmamento passam céleres...
E um dia, em um instante cheio de significados, a pequena vislumbra o grande mistério. Percebe a maestria de Tudo, para tão logo, tão rápido quanto os passos largos dados na grande estrada, entender que a singular maestria de Tudo é ser Nada.

***

Perscruta a imensidão e outras dúvidas a invadem.
Ansiosa por respostas e palavras, assiste ao andar dos grandes ventos na esperança de um sopro preencher seus anseios mais profundos.

Quando alguns nobres do Norte se aproximam, ergue seu olhar à família dos Ventos Boreais. Contudo, impávidos e gelados, seus ruídos só mergulham-na em outras questões.

Questiona à Ventania do Sul. E pequenas rajadas frias sussurram ao longe:
“Como ousas perguntar, estúpida menina?”.
“Como ousas sonhar a epifania do grande mundo?”.

O ruído do globo que nada responde dilacera a pequenina alma aflita por respostas, enquanto, não tão longe, espreita-lhe os passos uma atenta coruja, filha da noite úmida.

***

Tu não a enxergas. E tudo silencia para o nada, quando tu ousas com o olhar uma dúvida para o mundo.
Em sua concha ancestral, tu não és ainda capaz de escutar o abafado pio da sabedoria do globo.

***

Perdida, absorta na grande falta de sentido, tu andas por prados alhures.
Caminha por dias em segundos. Procura por anos, inserida no tempo de alguns minutos.

Enquanto isso, alguém aqui lhe diz palavras de fazer pensar, acendendo luzes pequeninas em trevas cândidas. Mais à frente, aquele abafa pequenos lumes, fazendo-a adentrar em pórticos incolores.  

Tempestades caem em ti, encharcando o teu coração vazio.
Caminha por lugares, esvazia sentidos, deixando pegadas de cansaço oriundas de teu espírito esgotado.

***
Sente à beira do caminho e não penses mais, pobre mulher.
Olhe ao seu redor com atenção...
Tu não sentes mais as relvas que dormiam sob ti,
tocadas outrora por brisas, frutos ditosos do fim de todos os lugares?

Acorde, pequena criança, e olhe ao redor.
Vês? O mundo envelheceu.
Heras cresceram sob os teus pés gelados.
Outras eras deitaram suas mãos sobre suas costas juvenis, hoje arqueadas pelas dores do pensar.
E a mão do tempo acarinhou teu corpo hirto, enquanto dormias o sono da ignorância.

***
Teus olhos podem se abrir. Grandiosas portas para a imensidão...
E toda resposta está tão perto.

Abra o céu depois da grande tempestade. E, solenemente, perceba que descansa a pequena semente fugidia em grandioso abrigo do tempo transmutada - tão-somente junto de ti.



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ansiedade...


Cai a tarde dando lugar à noite
E, furtivamente, risos do Crepúsculo preenchem o espaço vazio.

Precipita-se a noite, cedendo licença cândida
À pálida Aurora, que tenta vencer o dia Gris nascido outrora aqui.

Com sua capa nuvem, tu não és alguém...
Com sua capa luz, queres tão-somente nadar em águas profundas.
E querias ser capaz de nada em águas rasas.

Lança-se a manhã até a próxima tarde fugidia
E círculos desprendem-se sob a Terra.
Sucumbem formas além da noite anis profunda.
Tombam sonhos para além do agora
Para renascer com o momento presente ansioso de futuro.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Retrospectiva

Prados bizarros são tapetes para meus pés frios
Enquanto estranhos gritam silêncios para o além-mundo.

E penso sorrindo: onde estou? quem sou?

Caminhos ermos são habitados por pouco por poucos – parece.
E após perniciosa presença, anos passam céleres.

Repousa a nua cabeça, a moça que não mais tem cabelos.
Ficaram à beira do caminho, como lembranças brancas
De tempos imemoriais; lembranças de ocos dias sem memória.


Tu lembras aqueles dias vazios...
E esqueces momentos em que completudes se firmaram...

Prados solitários são recantos para populações inteiras buscando outras populações.
E tu olhas, tu procuras e tu... nada...
Nadas em águas rotas... limpas de presença,
Vazias de seres que tu desejas, mas que não te querem.

E o absurdo torna-se claro e coerente. Fala contigo e tu o escutas...
E tu aprendes palavras de outras épocas...
Entendes, então, costumes além-tempo...
Apreendes a compreensão nula das coisas...

Tu és fragmento de uma grande roda...
Tu és o pequeno grão querendo segura companhia para germinar...
Tu és, tão-somente, um medíocre mundo dotado de espetacular singularidade.


Habitas prados solitários em conjunto.
Andas por bizarros lugares, fazendo deles calçados para os teus pés sem vida...
Em ermos caminhos, conheces pessoas vazias e, somando vazios, provas o surgimento de algo maior... Ó Grande Vazio!

Crias memórias a partir do nada...
Crias torres a partir da falta de matéria
– Nada mais que crias de tuas angústias agridoces...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Cegos instáveis

Se tu pudesses, por um momento...
Digas... Desejas alguma coisa?

Talvez, terias realizado...
Talvez, desejarias que
Esse momento passasse célere.

Querias que esse tempo se apresentasse
Realmente relativo. Relativo aos desejos teus,
Esse tempo, então, deveria voar e tão logo outro tempo,
Outra época, outro momento se firmar.

Em dado momento na vida, cada um
Pede um pouco mais de tempo...

Aquele outro pede para que o tempo pare,
A fim de que cessem todas as dores –
Angústias intrínsecas àquele instante.

Outro, entanto, pede para voltar o tempo.
Assim, sejam revistas, revividas, descartadas
Meras grandes coisas...

Todo o tempo, olhas para uma direção,
Sem focar a atenção nele...

Presente fragmentado...

O que, afinal, agora tu nos trazes?
Que dizes dessa tosca embalagem?
À frente está, por quê?
Não percebes?
O que descartar? O que, realmente, amealhar?

Sempre olhando outros lugares...
Sempre buscando outras direções...
Sempre esquecendo o foco fulcral presente...

Não abre o pacote...
E fala ainda em essência,
E vê apenas o embrulho sujo,
E julga-o pela aparência...

Para que coisas sejam diferentes, no futuro,
A fim de que tenhas um pouco mais de orgulho
- Do passado -,
Quando esse presente se metamorfosear, 
Algo lhe será dado...

Insatisfeitos ainda, eles não conseguem se firmar...

O chão em que pisas é sempre movediço.
E o amanhã, dizes, será melhor...
Pois nada e por nada é agora suficiente...

A consciência do agora, tu não percebes...
Mais do que qualquer coisa, esse momento é
Tão-somente reles 
Presente desperdiçado...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A confissão do homem-lobo moderno: uma leitura do gênero romance, do anti-herói e do narrrador-personagem da modernidade

“Eu, o Lobo da Estepe, vago errante
pelo mundo da neve recoberto;
um corvo sai de uma árvore, adejando,
mas não há corças por aqui, nem lebres!
Vivo ansiando por achar a corça,
ah! Se eu desse com uma!
Tê-la em meus dentes, entre as minhas garras,
nada seria para mim tão belo.
Havia de tratá-la tão cordial,
de cravar-lhe nas ancas os meus dentes,
beber lhe o sangue até a saciedade
a uivar depois na noite solitário.
Contentava-me mesmo com uma lebre!
Na noite sabe bem a carne flácida.
Por que de mim há de afastar-se tudo
quanto faz esta vida mais alegre?
Em minha cauda o pêlo está grisalho
e também já não vejo as coisas nítidas;
há muito morreu a minha esposa
e vivo a errar sonhando corças,
ansiando lebres,
ouço o vento soprar na noite fria
com neve aplaco o fogo da garganta
e levo para o diabo a minha alma.”
(Hesse, 1969. p. 62)



Quando pensamos em épica tradicional, lembramos, não raro, de Homero, com a Ilíada e a Odisséia, esta última a “narrativa primordial” do ocidente, para falarmos com Tzvetan Todorov (1979). Emil Steiger (1969), em seu livro Conceitos fundamentais da poética, afirma que Homero foi o único poeta em que a essência do épico aparecia, até certo ponto, pura. Neste ponto, nos é pertinente perguntar sobre o que seria o gênero épico em si, para prosseguirmos com maior segurança em nossas investigações.
Nosso objetivo com esse pequeno artigo não é de forma alguma entrar nas especificidades do gênero épico, até porque muitos já se detiveram nesse trabalho. Nosso objetivo, na verdade, é pontuar alguns dados importantes para nossa reflexão para depois pensarmos no que se tornou, ao longo do tempo, a épica ou a epopéia em si.
Em linhas gerais e de forma muito sumária, podemos dizer que a épica é um gênero narrativo que prima pelo relato de grandes feitos, obedecendo, dessa forma, certos paradigmas pré-estabelecidos. Uma das características distintivas das obras épicas é o distanciamento mantido pelo narrador, que se mantém inalterável ante o seu objeto, diferentemente do poeta lírico que se apresenta dentro das obras, mostrando com a sua voz lírica o seu parecer acerca das coisas, deixando claro o seu juízo pessoal sobre aquilo que está diante de si sem distanciamento. Percebe-se também no gênero épico um registro de fatos que estão inseridos na sucessão de um determinado tempo e espaço. Dito de outro modo, no âmbito épico tempo e espaço estão delimitados de forma clara, diferentemente da lírica, na qual muitas vezes tempo e espaço fundem-se com as impressões daquele que conduz o discurso.
Ainda pensando nas ideias propostas por Emil Steiger, presentes em seu Conceitos Fundamentais da Poética, percebemos que o que está claro no interior do gênero épico é o ato de esclarecer, mostrar, tornar plástico os fatos narrados; fatos esses que possuem uma espécie de autonomia dentro do texto.
Seguindo as pistas presentes nessas primeiras informações, poderíamos tentar estabelecer uma espécie de ponte que nos ligue à gênese do romance moderno e que nos permita pensar um pouco mais no gênero romance que é, de acordo com Georg Lucáks (2000), “a epopéia do mundo abandonado por Deus”, ou ainda, “a forma da aventura do valor próprio da interioridade”. Na verdade, a pergunta que nos fazemos é como criar essa ponte? Ela é realmente possível?
Thomas Mann (1988), em um ensaio intitulado A arte do romance, estabelece que, no início, o romance era uma degeneração arbitrariamente aventureira da epopéia em verso, mas que, no seu longo caminho de desenvolvimento, trouxe consigo possibilidades, cuja realização, desde os monstros fabulosos dos gregos e dos hindus até a Education Sentimentale e as Afinidades eletivas, nos permitiram considerar a epopéia e a épica como uma pré-forma arcaica do romance.
É interessante observar que o romance, como o conhecemos, surge a partir de um contexto muito singular que envolve mudanças em vários campos, sobretudo, o do pensamento filosófico. Na verdade, a partir do século XVII, percebemos uma mudança sensível na forma como o homem se vê. É a partir desse momento histórico que vemos surgir no âmbito do pensamento e da postura ocidental um foco maior no homem e em sua individualidade. Uma centralização no indivíduo, em certa medida, é estabelecida. O famoso cogito que estabelece um eu que pensa e que existe surge e passa a vigorar no contexto do pensamento. Com o tempo, a revolução copernicana é estabelecida na filosofia com Kant, no século XVIII, trazendo à tona o advento da primazia do olhar do sujeito em detrimento do objeto. É firmado o primado pela subjetividade com foco no indivíduo, em detrimento da vontade de um ser superior, o que acabava por estabelecer de forma muito particular um princípio, para continuarmos com Thomas Mann (1988), denominado de interiorização. Foi essa interiorização, que trazia luzes e foco sobre o interior dos indivíduos, que influenciou sobremaneira a arte e a literatura, sobretudo a partir do século XVIII, possibilitando o surgimento do romance propriamente dito.
Nesse novo gênero, que tem suas raízes na epopéia e na épica, não existe mais a simples demonstração, o simples registro dos fatos narrados, mas, sim, a recriação de um mundo no qual o sublime e o profano coexistem no mesmo espaço; onde o belo e o grotesco se interpenetram num mesmo tempo; onde a loucura e a sanidade, muitas vezes, são e estão, ontologicamente, manifestadas em único Ser, ainda que este, em última instância, seja fictício.  É o personagem dúbio e múltiplo que traz uma caracterização única ao romance moderno. Como este se configura ao longo do romance? Como este se coloca nas narrativas modernas? São perguntas que nos fazem refletir sobre a especificidade desse elemento primordial em uma narrativa. E é sobre esse Ser que habita a linguagem, lembrando aqui o filósofo alemão Martin Heidegger, que tentaremos discutir nas próximas linhas, abordando para tal os protagonistas dos livros Lobo da Estepe, de Hermann Hesse (1969), e Confissões do impostor Felix Krull, de Thomas Mann (2001).
Octavio Paz (1996), no ensaio intitulado A ambigüidade do romance, afirma que o herói épico é um arquétipo, um modelo. Quando falamos em modelo, falamos indubitavelmente em paradigmas a serem seguidos. Nessa perspectiva, se o herói épico era modelar, consequentemente ele era um ideal a ser seguido. E como o romance de certa forma tem um parentesco com o gênero épico, poderíamos pensar que o herói presente no romance poderia ter afinidade com esse ser paradigmático presente nas epopéias antigas. Contudo, não é bem assim que funciona na “epopéia da modernidade”, que é o romance. Diferentemente das grandes epopéias clássicas, o herói do romance moderno, despojado do caráter paradigmático que o herói épico possuía, lança-se ao mundo e nele se forja, dotando-se de todos os contrastes, paradoxos e antíteses que a modernidade e o mundo moderno abarcam em si.
Neste mundo estranho, o herói perde a segurança e passa a viver em um tênue limite, vagando não raro solitário, ainda que mergulhado na multidão, sobre o solo movediço da ambigüidade e da contradição. Impulsionado, consciente e inconscientemente, pelas forças, muitas vezes, irracionais que regem o caótico mundo moderno em que vivemos, o herói da épica perdida forja-se no mundo sob o signo da contradição e, por se mostrar tão volátil no contexto do mundo, ele não é paradigmaticamente clássico para ninguém.
O herói da modernidade, como não podia deixar de ser, é aquele que melhor reflete o homem moderno, esse anti-herói que, angustiado, esfacelado, alternando estados de êxtase, euforia, depressão e tristeza, exprime sua essência incomensurável, problemática e infinita nos finitos e estreitos limites da existência.
Lobo da Estepe, livro do escritor alemão Hermann Hesse, é exemplar para que pensemos nessa ambigüidade do herói/anti-herói, pois esta obra é um importante exemplo de como características díspares podem habitar a essência de uma personagem literária, configurando de forma modelar aquilo que temos como anti-herói no contexto das narrativas.
O protagonista da obra de Hermann Hesse, Harry Haller, costumava-se chamar de Lobo da estepe por “ser um ser estranho, selvagem e, ao mesmo tempo, tímido, muito tímido”. Era, como a personagem mesmo atesta, um sem pátria, “um solitário odiador do mundo burguês”, mas que, contraditoriamente, sempre morava em verdadeiras casas burguesas. Na verdade, essa personagem, Harry Haller, abrigava em si muitos elementos antitéticos e compunha-se essencialmente não de dois, mas de cem, de mil, de essencialmente múltiplos seres. Não eram apenas Harry e o Lobo que estavam presentes na natureza da personagem. Como deixa claro na obra um segundo narrador, desta vez um narrador observador, que fica sabendo da história de Harry através de alguns escritos pessoais e também de uma parca convivência com esse Lobo, “sua vida não oscila simplesmente entre dois pólos, tais como o corpo e o espírito, o santo e o libertino, mas entre mil, entre inumeráveis pólos”; pólos esses que constantemente se movem, num movimento incessante, perturbador e imprevisível.
Imprevisível, o narrador do romance moderno deixa, simplesmente, de obedecer aos paradigmas épicos de distanciamento do objeto ao aproximar-se muito das personagens, chegando, muitas vezes, a fundir, se assim podemos dizer, o próprio narrador na figura ficcional do romance. Esse narrador-protagonista que narra a partir de um ponto fixo, limitado quase que exclusivamente às suas percepções, pensamentos e sentimentos, faz uso de sua Verdade Subjetiva, pensando aqui no conceito de verdade do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard (1981), que busca refutar a verdade absoluta hegeliana, argumentando que a possibilidade de algo se tornar verdade depende única e exclusivamente daquele que a toma com plena paixão, agarra-a como sua verdade pessoal, uma verdade que, em última instância, transforma a existência do indivíduo que a possui. Ora, não é nada mais do que essa Verdade apaixonadamente subjetiva que vemos em muitos narradores-protagonistas? A partir de suas percepções, esses narradores-personagens nos levam, ou pelo menos tentam, nos fazer acreditar naquilo que eles relatam. Afirmam categoricamente, muitas vezes, que suas histórias são sinceras, como é o caso do narrador-personagem da obra de Thomas Mann, Confissões do impostor Felix Krull.
Confissões do impostor Felix Krull é uma obra que não nega de forma alguma sua modernidade, pois está afinada com a realidade ambígua que nos rodeia e propicia ao leitor, a partir de um peculiar reflexo/reflexão sobre o mundo, uma percepção muito mais dilatada e sensível da sociedade.
Quando falamos em reflexo/reflexão, queremos dizer que a literatura possui um caráter, de certa forma, representativo da realidade, que poderia ser pensado como esse reflexo do mundo; reflexão, pois há, conforme Lucáks nos atesta, um movimento de reflexão no grande e autêntico romance que está inserido num contexto temporal e histórico. O romance de Thomas Mann, em especial, está afinado com essa idéia. Afinal, neste livro, Thomas Mann procurou criar uma visão de mundo anárquica, através das aventuras e desventuras de Felix Krull, personagem problemático, um autêntico anti-herói, que não obedece a nenhuma lei, e que também não propõe nada para melhorar as situações que o oprimem. Na verdade, as Confissões do impostor Felix Krull traçam um vasto perfil crítico da burguesia européia, mostrando que os elementos que ajudam a construir a natureza da personagem de Felix Krull, tais como a ironia, o humor, o sarcasmo e os artifícios presentes no texto, não passam de um hábil e inteligente recurso para induzir o leitor a compreender o vazio, o egoísmo e a alienação de uma classe centrada tão somente em suas necessidades. Para que compreendamos melhor essa idéia, basta lembrarmos-nos que Krull articula um discurso altamente argumentativo, no qual busca convencer o leitor de que suas ações torpes, suas peripécias e artifícios são válidas, que este está sempre “fiel à verdade”. Com certeza, Felix Krull é fiel a uma verdade: “à sua própria verdade”. O interessante é que aquilo que era concebido como verdade, no que diz respeito à antiguidade clássica, e que vigorou durante muito tempo acabou sendo preterido em prol de um conceito mais afinado com o momento presente. Por isso, quando Krull chama atenção para essa verdade que ele está seguindo, o leitor arguto irá desconfiar e se perguntará a que tipo de verdade diz respeito aquele discurso confessional de Krull, irá questionar mais profundamente essa verdade que é narrada e não irá ser ludibriado, pelo menos não tão facilmente, por suas retóricas digressões que buscam, de certa forma, escusá-lo de uma “possível culpa”:

“Sem dúvida vão me censurar, dizendo que o que fiz foi um roubo mesquinho. Diante disso silencio, e afasto-me, pois naturalmente não posso impedir ninguém de usar essa mísera palavra, se isso lhe dá prazer. Mas uma coisa é a palavra - a palavra barata, gasta e superficial - e outra coisa é a ação, viva, original, eternamente jovem, eternamente reluzindo, nova, primeira, incomparável.” (Mann, C.I.F.K. 1981, p.47)

Octávio Paz afirma que o romance é uma épica de uma sociedade em luta consigo mesmo, e reiteramos com ele que o romance é realmente esse embate, essa batalha; e afirmamos ainda que dentro desse embate sem vencedores é que estão as dificuldades, as problemáticas que habitam o cerne das contradições, ambigüidades e tensões, que são, por sua vez, as filhas diletas dessas lutas. São esses frutos, nascidos do embate da sociedade, que se transformam em matéria bruta para a feitura de novos e instigantes romances; e, posteriormente, são eles que levam aqueles que estão dispostos à reflexão, ao importante (e tão escasso) ato da indagação e do questionamento do mundo.
A Literatura, o Romance, a Arte em si, para dizermos de modo mais abrangente, está afinada com a sociedade e suas lutas, seus conflitos, suas dificuldades reveladas, seus grandes paradoxos confessados; afinada em uníssono com o Zeitgeist (espírito de época), e, dessa forma, provoca, muitas vezes, o estranhamento que vem acompanhado do questionamento e da investigação. Nesse sentido, nada é mais natural do que a reflexão da sociedade, o herói/anti-herói reflexo do homem moderno, a visão de mundo, o discurso subjetivo estarem no cerne daquilo que outrora fora épica e hoje, na modernidade (e na pós-modernidade), é romance.
Artigo apresentado à Faculdade de Letras (UFG) - Novembro de 2005.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Tanto



Tantas coisas são...
Tantas se perdem...
Tantas passam e ficam à margem.

À beira do caminho, tantos estão
Margeando, observando com olhos lassos,
Olhos pudicos – eis o medo de enfrentar.

Tantos são os receios
Tantas são aquelas mágoas, que
Deixam sentimentos de naufragar
Em águas rasas que nos afagam
Em águas profundas que nos afogam
Em águas que nos jogam
Para fora do mar e do ar...

Mares revoltos são tantos...
Mares calmos são sem número...
Rios torrentes, rios perenes, rios decadentes
Perdem suas águas em seu caminhar.

Tantos são
Tantos estão

Tantos nãos
               em tantos vãos
                                no vão do pequeno mundo...

sábado, 23 de outubro de 2010

Folha ferida pelo vento


“Stay or leave
I want you not to go
But you should
It was good as good...goes
Stay or leave
I want you not to go
But you did”...
Dave Matthews




Desfalece com esperança de regeneração...
Fazia frio em ti, quando aquecida fora por longínquos ventos boreais.
Fazia frio em nós, quando caíste e levantada foste por rajadas de brisas outonais.

Folhas outonais, bordos sazonais
Que sangram ao pôr-do-sol.
Ecos de vozes rugem ao longe: caia, verde folha ferida pelo vento.

Foste fraca, quando tudo apenas parecia,
E não resististe... Suspiros juvenis em ti ansiavam por experiência.
Caíste, estranhamente, ascendendo-te.
Entanto, tu sabes: jovens suspiros não permanecem... Fluem simplesmente.

Brisas transmudam-se e tornados são, em pouco.
Folhas, então, caem e choram por ti.
Voltas e indagas: devo a ti reparação?
- Assumes a culpa que lhe pertence e recomeças... apenas...

Ventos sazonais se foram: são os extremos para ti.
A um só tempo, eis o inverno, eis o verão.
Folha ferida, outrora sacudida pelo vento, arde pelo frio,
E é levada por ventos gelados que de muito longe vêm...
Gelados, mas em brasa...

Aquecem-te e, ao nada, por nada, abraçam...
Sonham sonhos de ver sóis e estrelas, sem ventos, sem auroras.

Contudo, os brados ventos cessam; só a brisa bate à sua porta:
Eis uma dama descrente que senta e lhe faz companhia...
Sábia, mostra-lhe que perto e ao mesmo tempo tão longe ventos vãos são...

Por quanto tempo tu terás de ver lá fora bordos transmudarem?

São tantas folhas outonais e bordos sazonais
Que se regozijam ao pôr-do-sol...

Ecos tímidos sussuram ao longe: caia, folha outonal ferida pelo vento,
Esqueça e, simplesmente, renasça.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Reflexões sobre uma dama louca -- Breves Considerações sobre O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã.


No final do século XV, Erasmo de Roterdã dedicou um peculiar livro a Thomas More. Nessa obra, Erasmo dava voz à Loucura e a deixava manifestar a sua visão acerca de outros tempos e, sobretudo, daquela época: os anos finais de 1400.
Uma pergunta que podemos nos fazer, diante de uma possível reflexão sobre esse interessante livro, O Elogio da Loucura, é: a discussão sobre a Loucura ainda se faz necessária?  Na verdade, o que ela nos traz? O que Erasmo colocou em sua obra ainda nos diz respeito? Ainda temos a Loucura no mundo?
O mundo em que nós vivemos se caracteriza por um constante e perene devir. O Panta-Rei preconizado por Heráclito de Éfeso nunca foi tão forte e presente como ocorre nos dias de hoje. O que aconteceu há um mês e que tinha importância fundamental para um contingente é suplantado diante do que ocorre nesse instante; e isso que ocorre agora amanhã não será mais lembrado e comentado – será apenas fato passado. A sociedade da informação transmuta-se, essencial e paradoxalmente, em sociedade do esquecimento, sociedade da alienação.
Nos dias de hoje, há a necessidade de se estar atento ao que acontece para que não fiquemos alienados; há a necessidade de estar sempre informado e atualizado, a fim de que não sejamos enterrados vivos. A racionalidade, a instrumentação, o conhecimento, os métodos, as técnicas, todos esses elementos e tantos outros se tornam entes extremamente necessários para a sobrevivência na sociedade da informação. O interessante é que, não obstante o conhecimento das coisas atuais seja desejado e buscado como algo fundamental, temos o fato de que, logo depois que uma determinada informação se fixa, algo maior vem e, automática, infinda e paradoxalmente, suplanta devagar aquilo que foi criado, como uma espécie de jogo cruel e iconoclasta de novidades ou, ainda, de reciclagem de ideias e notícias. Nesse sentido, é quase retórico perguntar onde entra a Loucura numa sociedade como esta. É loucura perguntar se realmente numa sociedade como a que nós vivemos o Irracional se manifesta. O fato é que no século XXI a Loucura é um princípio fundamental do mundo. Contudo, como nada é absoluto (sempre estamos às voltas com os paradoxos), é interessante perguntar quais são as faces da Loucura nos dias em que vivemos.
Viver em um constante devir, viver em uma constante transmutação, transformação e transvaloração faz-nos, de certo modo, estar diante de muitas das facetas da Loucura. A nossa era, assim como inúmeros períodos da história do mundo, é também a era da Loucura. Seja implícita ou explicitamente, ela se manifesta o tempo todo nas mudanças a que assistimos durante todos os segundos de nossas existências. Ela grita em todos os momentos em que tudo se desfaz como fumaça no ar, virando apenas rastro gris do passado. Ela se mostra em cada rosto ou objeto que vemos e que, sobretudo, passa; e mesmo naquele que permanece, ali ela está. Diante disso, se ela é uma realidade de nosso tempo, é pertinente a questão sobre o modo como a encaramos. Afinal, nós a deixamos participar de nossas vidas como epifania ou como engessamento de conceitos? Dedicamos nosso olhar a ela para tentar aprender algo ou simplesmente damos a ela um significado pequeno diante dos acontecimentos que nos cercam?
A rapidez com que esquecemos um crime hediondo e damos atenção ao último capítulo de uma novela pode ser encarada como loucura. A forma como damos valor ao último lançamento da Apple e viramos o rosto para não ver a criança que passa fome ao nosso lado ou mesmo o modo como nos dedicamos aos nossos amigos virtuais do Facebook, do Orkut ou do Twitter, esquecendo-nos daquele amigo real que precisa de um abraço e uma palavra de apoio é, de fato, loucura. Da mesma forma, o momento em que jogamos nossos afazeres para o ar e nos dedicamos a algo que realmente amamos ou o instante em que nos damos conta da rapidez espetacular com que nos inteiramos dos acontecimentos do mundo ou nos cercamos do conhecimento, todos esses movimentos e tantos outros nos fazem pensar no belo fruto de Plutão e da Juventude. A Loucura está, meus caros, indelevelmente, em tudo (e em variados sentidos). A questão complicada é trazer a faceta exposta por Erasmo à nossa sociedade de modo mais intenso e significativo.
A Loucura que aparece na obra de Erasmo de Roterdã precisa estar presente em nossos dias de modo a nos permitir a ser mais criativos, mais sonhadores, mais iconoclastas. Precisamos ser menos tensos com o mundo.
Revestimos-nos dessa aura de que precisamos ser os melhores, de que temos necessidade de todo o conhecimento possível e até tentamos adquirir tudo aquilo que supostamente pensamos precisar, contudo nos esquecemos de que tais aspectos levados tão a sério nos transformam em uma espécie de loucos de que deveríamos querer distância. O homem do século XXI deveria brincar um pouco mais com a Loucura que traz leveza: aquela que nos apresenta a criatividade; aquela que nos põe diante da Liberdade. É essa a Loucura que Erasmo tenta nos apresentar, e ela não está longe do conhecimento. Ela não está longe das inovações. Nessa perspectiva, de nenhum modo ela estaria longe de nossa sociedade da informação ou daquilo que gostaríamos que esta fosse. Essa Loucura que precisamos conhecer melhor anda de mãos dadas e toma um belo café com todos os elementos que a nossa sociedade fria e esquecida necessita resgatar.
O homem precisa chamar para si a Loucura que nos faz mais humanos. Para o nosso crescimento, precisamos resgatar essa dama que também estava perdida para tantos outros povos. Precisamos nos sentar e conversar com Dionísio e Baco mais frequentemente, e nem por isso precisamos expulsar Atenas e Apolo de nosso convívio. O equilíbrio louco é o elemento de que precisamos para crescer de modo mais integral. É preciso chamar o absurdo apolíneo, a racionalidade dionisíaca para nossas vidas e, sobretudo, tentar abraçar a madame Loucura como se fosse uma mãe que muito nos tem a ensinar. Basta que saibamos perceber que ver o lado positivo da loucura pode, sim, nos descortinar coisas sensivelmente importantes.
É necessário ir além dos conceitos e trazer o que está encoberto por nossos tolos preconceitos...  

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estudos e ideias...

Estava aqui, tranquila, estudando umas coisas, quando me deparei com um assunto interessante no que tange ao Direito Constitucional, mais precisamente em relação ao Poder Legislativo.
Vejamos... Diz a Constituição, em seu artigo 80, que “em caso de impedimento do Presidente e do Vice-presidente da República, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal”.
Hmmm... Interessante, não?
Como não podia deixar de fazer, fiquei pensando em modos de como internalizar esse conhecimento e me veio à mente um cenário catastrófico e, por que não dizer, altamente tragicômico.
Eis meu pensamento tosco: imaginemos o Brasil daqui um tempinho e, como as coisas andam, imaginemos que nosso(a) futuro(a) chefe de Estado bata as botas e que, por azar, seu vice, um Maria-vai-com-as-outras qualquer, também resolva fazer o mesmo movimento em pouco tempo... A lei de Murphy está à solta como sabemos, então tudo é possível...
O que é pior vem de fato agora... Levando em conta o que foi mostrado antes, sobre a Constituição, imaginem que o presidente da Câmara dos Deputados  nesse cenário hipotético seja o Tiririca ou uma dessas mulheres-fruta ou o Sérgio Malandro ou o Popó  ou tantos outros (e são tantos).
Detalhe: eu não sei se todos esses seres estão concorrendo a mandatos federais, mas já imaginaram se estivessem? Já imaginaram se uma votação muito expressiva fizesse do circo que já é o nosso Poder Legislativo um trampolim para um presidente palhaço vir à tona, governando mais palhacinhos... Pois, sim, é isso que temos sido há tempos... O fato é que, em uma situação dessas, o nosso presidente vindo da câmara poderia ser um desses que não liga a mínima para nada e que não sabe realmente de coisa alguma... Um desses desavisados que com seu grande e imenso coração, se descobrir alguma coisa, nos conta. Há outros cenários: imagine o nosso país sendo, por um momento, dirigido por mulheres-fruta, rotas, passadas do tempo e, paradoxalmente, nada maduras; mulheres sem conteúdo algum, não obstante existirem homens que veem ali conteúdo demais...
Ai, ai... os paradoxos e as mulheres em todos os âmbitos; os palhaços em todos os lugares e posições... Triste.
Voltando ao meu ponto: é claro que é ser um pouco apocalíptica demais pensar que tal cenário pode, sim, se concretizar... É fato que os lobos dentro do Congresso não deixariam tal coisa acontecer, a não ser que houvesse muito interesse em jogo ou nas cuecas e nas meias de muitos deles. Além disso, muitas perdas teriam de ocorrer - o que seria um tremendo "azar". Como eu disse, são hipóteses malucas...
O que fica, na verdade, é só essa reflexão: sendo ou não ficção tola da minha mente, isso tem um pé na realidade; está na Constituição Federal, ora... Por mais maluquice que possa parecer, precisamos ficar de olho, sim, nos monstrinhos, nos palhacinhos, nas frutinhas, nos toscos em geral que elegemos... Não é só por conta de situações como as referidas, é mais uma questão de pensar a respeito das pessoas a quem delegamos tarefas tão importantes. Eles não estão lá por acaso...  Não basta saber distinguir o botão do sim e do não na hora de votar as matérias em pauta no Congresso Nacional. É necessário um conteúdo diferenciado, coisa que muitos dos nossos candidatos precisam apresentar...
Schopenhauereana ou não, eu digo: a Lei de Murphy está, infelizmente, sempre ao nosso lado... E contrariando um slogan podre que está rolando por aí, pior do que já está pode ficar com toda a certeza...

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

...



Palampsetos perdidos escondiam a rica certeza de todos eles.
Atravessar o pórtico sempre foi deveras perigoso.
Ultrapassar limites (in)condicionando o ilimitado
É abrir portas dúbias de desconhecidos campos sensoriais.

E quanto mais se abre essa massa encefálica,
Abrigo lodoso de sonhos e quimeras rotas,
Mais me desespero.

Quanto maior o cabedal tosco de insossas ideias,
Satélites de pseudomundos milenares,
Maior essa sensibilidade tola para,
Em minha nubla nebulosa face,
Sentir o tapa da existência de milhares de existentes...

E, sempre ao abrir-me, quedo...
E, sempre ao subir, fecho-me.

Fechada, por ora queria Não-Ser...
Quedada, queria, porque me sei Ser...

Saudade das gotas breves...

Timidez...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Horas Sempre Absurdas

Quebrar o silêncio de Horas Absurdas não é algo fácil, sobretudo ao inaugurar um projeto de um blog. O fato é que eu venho tentando isso há bons e belos anos sem sucesso. Por essas e outras, espero que agora vingue.

Creio que este será um espaço para reflexões sobre uma série de horas passadas, horas preenchidas pelo absurdo da existência.

Haverá, quem sabe, fragmentos pseudopoéticos, pequenos fragmentos cândidos e amorosos; outros nem tanto. Um pouco de fúria vinda de elucubrações de todos os tipos e estilos: um espaço para colocar o pensamento; um espaço para um pouco de reflexão e até mesmo de (não)razão.

As Horas Absurdas, talhadas em mármores que não há, oriundas do mais puro jaspe negro, aquele que jaz aqui e acolá, estão sempre aí para serem vividas e são elas que permitirão a feitura de tudo o que aqui será posto.

É, talvez, uma tosca homenagem a uma Hora Absurda, à verdadeira Hora Absurda, fruto de uma persona dotada de múltiplas pessoas.

Sem mais delongas: já não é mais um silêncio, meu caro Pessoa... O teu e o nosso silêncio não são mais aquelas naus com velas pandas... A hora é nova; a hora é sempre fresca, bela e, inquietantemente, absurda... Sempre absurda...

Venham, horas...