terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O grande azul...

Estrelas caem em lugares solitários trazendo, após um tempo, silêncios mortos para o além mundo.
Olho através do vidro embaçado da janela.
Há neblina lá fora. E, aqui dentro, é outono em mim.

Tudo é cinza enquanto folheias pequenas folhas,
Que caem por acontecimentos já longe de nós.

Procuramos aquela entrada, grande roda das mudanças.
Procuramos aquele belo lugar, ponto de encontro de turistas inexistentes e sem bagagem.
E ali estás: hirto e frio, enquanto repousas seu coração em águas geladas.

Olho as curvas da estrada e lembro-me daquele gris e estranho mar.
Teus olhos, há não muito, naufragaram em um mar anil de grandiosas dores e decepções.

De memórias e ódios perdidos, tu vives.
Respirando os ares de prados secos e sem vida para ti – e para o resto.
Construindo e tão logo destruindo histórias em vidas de tantas estrelas...
No fim, ilusórios são os desejos de esquecer aquele oceano frio.

És talhado sob a matéria crepuscular de todas as tristezas.
Escondes em olhos cândidos angústias maiores que as das nebulosas de todas as amigas minhas.
És origem e fim de muitas dores de constelações inteiras. E um dia, tu sabes, foste ferido também.

E tens de dormir toda noite com a culpa-dor, muitas vezes camuflada em noites em que estrelas incendeiam sob ti.
Cada dia, dores tão diferentes – doenças geradas por ti em cada um dos muitos portos pelo qual um dia, turista infeliz, passaste.

Verme insepulto de dia, borboleta negra à noite, tu consegues ainda fazer pensamentos pararem. E em almas que lhe desejam absurdamente o bem, tu inspiras a piedade de virgens que esperam o amor orando. Inspiras pena, por ser tão-somente um daqueles que desconhecem o significado dos acontecimentos.

E dos céus, algumas estrelas desejam que recebas a visita amorosa de estrelas anteriores a esse tempo, pequeninas estrelas mortas renascidas para iluminar a sua pálida existência.
Sabem elas que tu necessitas de singularidades – muito mais do que todas aquelas estrelas defuntas.

Necessitas de pequenos disparos de mundos cintilantes.
Precisas esquecer o cinzel que deturpou-lhe a alma e o coração – agora sem vida.
Precisas curar a ferida – gritar o ódio dentro de ti para conseguir mais uma vez, verdadeiramente, sorrir.

Despe a farda e vista as estradas, suas amigas ditosas.
Sepultes aquilo que há muito se foi e deixe-me, ser.

Nades para além do passado
E, no Porto Presente de chuvas horizontais,
Que o levam para tantos lugares, procures ver,
Por entre o cinza e o azul anil de seus sonhos infantis,
As cores do seu Velho Mundo.

E em novos mundos, velho pai esquecido, deixe que seu ser cansado aporte.
Faça de algum cruzamento, latitude versus longitude,
Porto mudo no mundo para sua alma desditosa...

Texto/poema dedicado a uma pessoa sem porto e sem esperança... 
que viaja pelo mundo sem cessar e sem nada encontrar...

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