quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Beleza Suja: GRUNGE

Capa do DVD brilhante do Unplugged do Alice in Chains

Som conscientemente sujo, guiado por guitarras distorcidas e vocais exuberantemente arrastados e melancólicos; muitas vezes, um som liderado por violões que, desplugados, juntamente com outros instrumentos, fazem pensar e questionar a vidinha tosca que levamos. Talvez essas linhas não digam muita coisa, uma vez que é primordial mesmo ouvir, sentir e se deixar levar pelo som das guitarras, baixos e baterias. Contudo, as palavras aqui servem para, de alguma forma, homenagear um estilo de Rock que eu, particularmente, reverencio com toda a paixão existente em mim: o Grunge.
Foi nos fins dos anos 80, quando a cena rockeira via a manifestação do Glam Rock, com toda a sua purpurina e sua grande (para não dizer quase total) falta de conteúdo, que alguns jovens de Seattle e outras cidades vizinhas, nos EUA, começaram a apresentar o resultado do som feito em suas garagens. Foi assim que, de um grande caldeirão frio, melancolia, crítica ao vazio existencial, autocrítica, solidão, vazio e tantos outros temas e sentimentos acabaram - quando elevados a uma condição musical sem igual - por emergir e mudar a cena rock de uma geração.
Talvez não seja nenhum exagero meu dizer que os jovens participantes desse momento único em nossa música, mundialmente falando, tivessem um parentesco com ideias existencialistas. Pais de um novo momento no rock mundial, esses garotos e garotas trouxeram, à La Kierkegaard, muito do temor e do tremor que a cena musical daquela época estava precisando. Falando das introversões humanas, de tantos seres que vivem dentro de caixas (Man in the box - Alice in Chains); salientando a necessidade de ser um pouco mais verdadeiro nesse mundo de aparências (Come as you are - Nirvana);  falando da relação entre as pessoas em um mundo em que os seres se tornam cada vez mais distantes um dos outros (Brother - Alice in Chains) ou mesmo denunciando situações em que pessoas ignoram umas as outras (Jeremy - Pearl Jam) ou ainda salientando amores e outras tantas angústias, tão particulares e ao mesmo tempo tão universais, esses músicos conseguiram atingir a um só tempo aquele lugar onde aquilo que é só nosso acaba por encontrar o que pertence a todo o mundo. 
Nirvana, Temple of the Dog, Alice in Chains, Pearl Jam, Soundgarden são algumas das bandas que durante um curto, mas intenso período, fizeram muitos jovens pensar e refletir acerca de si mesmos e do mundo. Trazendo como tema primordial as angústias de uma geração, esses jovens mudaram as suas existências, mudando, concomitantemente, a de muitos outros.
Nesse nicho do rock, muitos sentimentos fortes e autênticos se encontraram. Isso porque de dentro daquilo que chamamos Grunge (palavra que deriva de Grungy, algo como sujo em inglês) emergiram poetas que, unindo palavras a um som melancolicamente raivoso e desafiador, conseguiram fazer com que muitos a partir de letras pesadas sentissem nas profundezas dessas canções o Zeitgeist de uma época em que muita coisa se mostrava vazia.

Expondo as feridas de um tempo, sem tentar disfarçar ou ignorar o mal-estar de nossa civilização, este Rock autenticamente Sujo limpou a alma de muito jovem que ansiava por ouvir, manifestar e  mesmo cantar algo significativo, algo que traduzisse seus anseios, suas dores e suas aspirações.

Embora eu não tenha a pretensão de parecer grande conhecedora de música (até porque não conheço mesmo muita coisa), acredito que, para conhecer um pouco mais do som visceral feito por esses jovens, é interessante ter acesso a algumas obras capitais, como o tão aclamado Nevermind do Nirvana, o Ten do Pearl Jam (fantástico!), o primeiro álbum (homônimo) do Soundgarden e o Core do Stone Temple Pilots, além de outros cds de outras tantas bandas bacanas (a lista é grandinha!). É necessária aquela paciência para conhecer essas belas bandas. O resultado é positivo, com toda a certeza. É só ir conhecendo um pouco mais da discografia dessa galera e ir abrindo caminho.

Antes de fechar meu textinho, é claro que eu não podia deixar de citar a minha banda favorita desse movimento. Não a citei no parágrafo anterior, porque para mim a banda de Layne e Cantrell merece um espaço mais individualizado. Talvez, eu até tente escrever sobre eles no futuro... Veremos.

A questão é que houve um tempo em que meu coração só batia por Axl, Slash, Duff, Matt... Eu pensava mesmo que um dia eu teria, tal qual Ellen Jabour, uma chance com o Axl Rose. Brincadeiras à parte, para a minha sorte (afinal, eu não tenho mesmo cacife para concorrer com a modelo supracitada), um dia caiu na minha mão um cd de uma banda que mudou a minha existência: o cd era do Alice in Chains.  Eu tinha 16 anos e hoje vejo que o som dessas pessoas abriu a minha percepção para outras matizes do Rock. Ele foi a minha ponte; o meu rito de passagem no campo das guitarras.

Todos os álbuns dessa banda me tocam profundamente, mas um em especial tem todo o meu carinho, por isso eu sempre vou recomendá-lo: o Unplugged. Recomendo-o, primeiramente, porque foi a partir desse disco que conheci o que era Grunge e passei a explorar outros sons e, segundo, porque, sem muito para refutar, eu só posso dizer que ele é Perfeito. É aquela coisa: só ouvindo dá para entender o que eu estou dizendo. Que me desculpem os fãs do Nirvana. Eu até entendo a singularidade do Unplugged feito por Cobain e companhia (entendo mesmo!), contudo, na boa, com violões, baixo, bateria e belos e excelentes vocais, nada soou tão harmônico, instigante e fantástico como o show realizado pelo saudoso Layne, por Jerry, Inez e Kinney, no Brooklyn Academy of Music's Majestic Theatre. Vale a pena mesmo conferir. ; )

Tudo isso e mais um tanto é grunge: uma beleza suja, bruta e ao mesmo tempo comovente e visceral, que emerge das profundezas do homem e encanta sem o menor esforço... Veja Layne e companhia cantando e entenda o que eu quero dizer. Salve grande Layne!


Maravilhoso CD: dá para ter uma bela palhinha do que é o Pearl Jam. Vale a pena curtir esse som!
Grande CD do Soundgarden. Dá-lhe Chris!
Não precisa nem dizer, né? Este é um "crássico"!

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