quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Passando para outra fase...



Não raro, quando algo ruim nos acontece, ficamos chateados e, de certo modo, lamentamos as coisas acontecidas. Não gostamos de sofrer, não gostamos de perder, não gostamos de ser feridos. Contudo, o que se observa é que são essas dores, esses pequenos mal-entendidos da existência que acabam nos fazendo passar para um nível melhor. São essas experiências que nos fazem conhecer mais de nós mesmos e do mundo (e olha que eu não me considero um ser pessimista).
Em um jogo de videogame, por exemplo, nenhum personagem consegue ir para a próxima fase se ficar passeando por lugares em que nada acontece. Na vida ou nos jogos que faceamos, a inércia realmente não ajuda de maneira nenhuma... Digo isso porque, há alguns anos, eu costumava ficar horas jogando Dungeon Siege, um jogo bem interessante em que você evolui à medida que ganha experiência. Lembro-me de um dia em que eu estava conhecendo o jogo. Tinha acabado de instalá-lo e, muito provavelmente, era a primeira vez que eu jogava algo daquele jeito. Lembro-me de passear por vários lugares e a questão é que nada parecia acontecer; até pensei que o jogo era idiota (afinal, é sempre mais fácil culpar os outros, não?).
Um dia resolvi prestar atenção em um caminho que havia no cenário: foi ali que, explorando o mapa mais conscienciosamente, descobri inúmeras coisas. Vilões, pequenos e grandes bruxos, insetos gigantescos, trolls e tantos outros personagens surgiram querendo destruir o pequeno mago que eu havia criado. Creio que meu mago bonitão, com a sua longa capa e seus medalhões e anéis de cura, morreu centenas de vezes. Lógico que era chato perder. Meu mouse quase foi jogado contra a parede dezenas de vezes, mas o interessante é que, a cada morte, eu parecia aprender algo a mais para usar depois. A fim de não passar por aquelas agruras novamente, um conhecimento era sedimentado. O fato é que amei esse jogo por muito tempo... Com certeza não é o melhor desse gênero, mas certamente me ajudou a enxergar certas coisas meio nubladas e, sobretudo, passar um tempo de qualidade (estudando – era em inglês – e me divertindo).
Pensando nessas questões e lembrando histórias de amigos, passagens literárias, quadros, músicas, vivências, pergunto: o que é nossa vida senão essa passagem por experiências, essa mudança de fases? Acredito realmente que, em sua grande maioria, as experiências são mesmo ingratas e dolorosas, contudo como fica a sensação de tê-las vencido? Por que não damos valor aos pequenos trolls que matamos diariamente ou mesmo vez ou outra? Por que não valorizamos quando mudamos de level?
Nossos inimigos são inúmeros, e eu penso que o maior de todos somos realmente nós mesmos. Nós e nossas inabilidades. Nós e a nossa falta de coragem. Nós e o movimento de nos auto-sabotar em tantos caminhos do grande mundo. Acho que, quase sempre, somos os responsáveis por aquela bela venda nos olhos que orna a nossa face caiada. Por essas e tantas, nos tornamos seres incapazes de ver que atrás dos pequenos bruxos que nos perseguem, atrás de nossas paranoias se escondem possibilidades grandiosas de autoconhecimento e mais experiência para driblar certas coisas que achamos complicadas.
Talvez, aquele troll horripilante, transvestido de chefe ou de vizinho, está indicando uma ponte; uma travessia rumo à criação de um ser mais completo. A grande questão é que, por medo, por comodidade, é mais fácil fugir ou ficar de longe blasfemando do que enfrentar nossos fantasmas...  Por certo, deveríamos ser um pouco mais como aqueles personagens que muitas vezes não levamos a sério. Afinal, é desviando de uma bolinha aqui, subindo em grande amontoado de tijolos, dando saltos, indo em frente, suando a camisa e enfrentando o destino que nos tornamos aptos a ir além do que somos agora. Não há como refutar... É fato: para outras fases acontecerem é necessária a nossa expressiva atuação no mundo dos fenômenos... A questão é internalizar isso. 


Tínhamos que aprender mais com o Mario
Eis aí a capa do meu saudoso joguinho

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