quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Homem que Contempla, de Rainer Maria Rilke

Hoje, sei lá por que razão, bateu uma saudade grande de certos poetas que eu costumo ler. Pensei em Rimbaud, em Drummond, em Baudelaire, em Pessoa, mas não eram esses os poetas que eu queria encontrar... Então, me lembrei da poesia de Rilke. Fiquei pensando onde eu poderia arrumar algumas poesias dele, uma vez que estou com todos os meus livros desse belo poeta por aí... Eureka! Internet, é claro! Eis, então, o fruto da procura: O Homem que Contempla, um poema intrigante que eu desconhecia: uma bela e reflexiva epifania em verso, se assim posso dizer...
Para aqueles que não conhecem Rainer Maria Rilke, em breve pretendo reler certas passagens de suas belíssimas cartas e poemas e tentar trazer algumas gotas de sabedoria poética para as minhas Horas Sempre Absurdas... Acho interessante postar algumas peças literárias dele, pois elas são, indiscutivelmente, fascinantes.
Lembro-me de uma aula com uma das maiores conhecedoras de lírica do nosso país quando ela falou de Rilke:  "depois dele, nos resta o silêncio "... Pegando o gancho da grande Professora Goiandira, eu acrescento com referência à poesia que eu escolhi nesta noite: depois dele, com o devido respeito a outros grandes poetas, só nos resta contemplar... O fato é que, depois de tanta leitura pesada nas últimas semanas (que o digam as provas da FD), é natural um grande saudosismo em relação a um prédio bonitinho do Campus II, da UFG. Sim, deu saudade da Letras, o lugar onde eu tive a chance de conhecer muitas grandes figuras...
Rainer Maria Rilke (1875-1926)










Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anônimos.







Com vocês, uma tradução portuguesa de   "O Homem que contempla  "



Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.

Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.

Triunfamos sobre o que é Pequeno
e o próprio êxito torna-nos pequenos.
Nem o Eterno nem o Extraordinário
serão derrotados por nós.
Este é o anjo que aparecia
aos lutadores do Antigo Testamento:
quando os nervos dos seus adversários
na luta ficavam tensos e como metal,
sentia-os ele debaixo dos seus dedos
como cordas tocando profundas melodias.

Aquele que venceu este anjo
que tantas vezes renunciou à luta.
esse caminha erecto, justificado,
e sai grande daquela dura mão
que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta.
Os triunfos já não o tentam.
O seu crescimento é: ser o profundamente vencido
por algo cada vez maior. 


Rainer Maria Rilke, In   "O Livro das Imagens  "
Tradução de Maria João Costa Pereira

2 comentários:

  1. Linda a poesia do seu Rilke! Quero o liiivro

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  2. Hey, Nay, sua fofa! O único Rilke que me resta é teu! Eu só tenho de te entregar! rsrsrs
    Você vai ver que o Rilke é (mesmo!) um cara fantástico. As cartas deles vão te maravilhar... =)

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