sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Justiça Mítica entre nós: Uma pequena visão de Maquiavel...


[Reformulação de uma passagem do livro Maquiavel no Inferno, de Salvatore de Grazia]

Certa vez, Maquiavel escreveu um discurso para um alto funcionário que seria lido por ocasião da posse solene de um novo magistrado. Começando por uma fábula, narrada nas Geórgicas de Virgílio e nos Fastos de Ovídio, o discurso (identificado pelo título de “Alocução feita a um magistrado”) fala da primeira época da humanidade, quando os homens eram tão bons que os deuses não hesitavam em descer dos céus para se reunir a eles.
Contudo, à medida que o vício se alastrou pela terra, as divindades foram voltando aos poucos para a morada celeste. A última a ir embora foi a Justiça, afinal acossada pela fetidez. Mas, relutando em abandonar os homens, a Justiça continuou esporadicamente – às vezes aqui, às vezes ali – a pousar na terra.
Depois de louvar a Justiça por seus benefícios aos reinos e repúblicas, Niccolò Machiavelli transforma a divindade numa virtude: “Esta virtude é a que, dentre todas as outras, apraz a Deus.” Ele cita algumas linhas do Purgatório de Dante, dizendo serem estes versos áureos e divinos que permitem ver o “quanto Deus ama a justiça e a piedade”. E termina, então, com um apelo ao novo juiz e à assembleia, para que sejam justos e imparciais a fim de que “a Justiça volte a habitar nesta cidade”. [... p. 69-70]

Fazendo das divagações de Maquiavel um pouco das minhas reflexões e viagens, deixo aqui meus votos para que realmente a Justiça, ainda que concebida em termos literários e, por que não dizer, míticos, faça parte de nossas vidas e de nosso tempo. Afinal, mais de 500 anos depois dos escritos de Maquiavel, ainda precisamos (e muito) dessa divindade, dessa virtude entre nós.

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