domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pinceladas breves sobre a vida de um gênio :: Vincent van Gogh

Autorretrato com o chapéu de palha (Paris 1887)
"Experimento uma terrível clareza em momentos em que a natureza é tão linda. Perco a consciência de mim mesmo e os quadros vêm como em sonho.” Vincent Van Gogh

"Criar arte queria dizer para ele não menos que pintar a vida; não a mera realidade, mas sim o princípio da força vital. Sofreu neste mundo e nele se dilacerou – e criou com a sua arte um mundo próprio e novo, colorido e movimentado que contém tudo o que ele sabia da existência." Ingo F. Walther
Cypresses (Saint-Rémy 1889)


O amarelo forte dos grandes trigais europeus e dos vivazes girassóis ou mesmo dos sujos girassóis... Ainda sem fugir à cor, há o amarelo radiante do sol, dos belos e muitos sóis... Os altos ciprestes em contraste com o azul ou, como ele dizia em suas cartas, “dentro do azul”... Os imponentes e belos ciprestes aos quais ele comparava a obeliscos egípcios a fulgurar nos campos... Ah, os campos exuberantes, as noites singulares e estreladas... O homem e a sua fragilidade nas minas; os homens e suas profissões; os homens e a sua importância efêmera no mundo; o homem e seu fim imediato... Os simples e pequenos objetos; as flores; os grandes pessegueiros; as oliveiras; os lírios... Os matizes orientais que o impressionaram e suscitaram a imitação, que no fim foram além do objeto original – o descarte da mimese clássica pela interiorização da vida fulcral interior... A natureza morta, a natureza viva que pelas mãos desse artista se torna um ideal de existência; sua própria imagem reproduzida dezenas de vezes, em autorretratos singulares e multicores...
Quantos foram os entes que tocaram Vincent Van Gogh a ponto de fazê-lo transpor o seu sentimento, sua alma para telas que nos tocam tanto? Como as imagens de nosso mundo exerceram nesse homem fascínio e obsessão? Fora a loucura?
Cafe terrace on the Place du Forum, Arles, at night




Como as imagens de seu mundo transmutado em telas conseguiram e conseguem gritar tão alto? Que honestidade, brutalidade e visceralidade se escondem sob suas pinceladas enfurecidas e angustiantes? Como esse artista conseguiu transpor o que era visto no mundo dos fenômenos e sentido em seu ser para um novo mundo esculpido por meio da arte em suas obras? Como enxergar tudo isso e não se admirar?
Japonaiseire: Bridge in the Rain (1887)
Responder perguntas sobre a natureza da arte, sua criação, sua vida é algo que talvez jamais saibamos fazer de modo satisfatório, embora procuremos sempre bater nessas teclas. O fato é que a natureza de grandes artistas, a vida de grandes obras nos toca e, como crianças curiosas que ainda somos, tentamos sempre formular a pergunta sobre o porquê de tudo isso. O porquê, embora seja pequeno em composição vocabular, é vasto quando tentamos descortiná-lo... Suas ramificações também. Elas levam a histórias que nos surpreendem e nos ensinam – fazendo suscitar mais perguntas, pequenos móveis propulsores de questões.
Sem dúvida, van Gogh, pra mim e para um bom número de pessoas, é um suscitador de dúvidas e de admiração. Ao ser tocado por algo que não podemos saber o que de fato é, van Gogh nos tocou com suas telas, com o seu modo de apreender a realidade, e só nos resta a posição de observadores, muitas vezes questionadores, admirados de sua obra artística, extasiados com sua riqueza interior.
Vincent foi, incontestavelmente, uma grande mãe de entes: trouxe à luz mundos, pessoas, sóis, naturezas diversas que nos fazem parar e desligar das coisas do mundo. Sua verdade emergia através de suas pinceladas. Através delas, van Gogh nos leva a um penhasco e mostra-nos a vida e nos faz um convite ao conhecimento. Mais do que isso, faz-nos várias perguntas sobre o mundo, o outro e nós mesmos: é o convite ao conhecer; é a maiêutica; a epifania de um mundo novo.

Old tower in the field (Nuenen 1884)
Não faço ideia de quando foi que uma dada obra de Vincent conseguiu atrair minha atenção pela primeira vez – na verdade, não sei dizer de fato nem qual foi. Costumo acreditar que tal fato ocorreu há mais ou menos 10 anos. Sei que naquela época me tornei apenas uma das muitas admiradoras das telas Starry Night, Cafe Terrace (...) e, como não podia deixar de ser, de alguns dos muitos girassóis pintados por esse holandês que foi bastante incompreendido em seu tempo.
Still life vase with 15 sunflowers (Arles 1888)
Blossoming Almond Tree (Saint-Rémy 1890)
Particularmente, eu achava o artista Van Gogh e as poucas obras que eu conhecia fantásticos, mas nunca tinha pesquisado mais a fundo, até o dia em que eu conheci o site www.vangoghgallery.com Eu não sei exatamente, mas creio que fiquei uns 3 dias apenas olhando alguns materiais que ele havia pintado durante a sua vida, material este ricamente disponibilizado pelo website (vale a pena conferir com o tempo necessário). Foi ali que eu pude conhecer mais do trabalho desse artista genial. Depois, com o tempo, eu fui pesquisando em outras obras que foram fazendo com que eu, dia a dia, ficasse mais maravilhada com a arte produzida por ele.

Retrato de Père Tanguy (Paris 1886/87)
A fim de dar uma contribuição, trazendo a algumas pessoas um pouco da história de Vincent, resolvi elaborar um texto para falar um pouco da vida dele. Não há nenhum tipo de objetivo acadêmico aqui: o único elemento que me guia nesse instante é a vontade de apresentar um pouco da vida desse gênio holandês que eu, realmente, admiro. É bem verdade que, ultimamente, tenho tido vontade de dedicar uma parte de meu tempo para pensar na questão do gênio artístico na visão schopenhauerena relacionada à figura de Van Gogh. Mas isso é um trabalho para daqui um tempinho, até porque tenho de fazer isso da melhor forma.
Voltando ao objetivo que rege esse texto, vou deixar nas próximas linhas algumas informações sobre a vida desse pintor que muito me fascina. É como eu disse em um textinho anterior, onde eu mostrava algumas Caveiras pintadas por ele: a questão é que van Gogh é muito mais que um pintor de céus estrelados e exuberantes girassóis; mais do que isso, sua vida vai muito além de um episódio de loucura e de uma orelha cortada...
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Vincent Van Gogh (1866)
Vincent Van Gogh nasceu no dia 30 de março de 1853, em Zundert, uma aldeia no Sul dos Países Baixos (Holanda). Desde cedo, o pequeno van Gogh dava mostras de seu caráter pouco sociável. Gostava de passar horas olhando a natureza e apreciava caminhar sozinho pelos campos. Nenhum de seus cinco irmãos jamais o acompanhava – com exceção do jovem Theodore, mais novo que Vincent quatro anos, que desde muito jovem se torna seu grande amigo e confidente.
Theodore (irmão e amigo de Vincent Van Gogh)
A história de Vincent e Theo é bela; a amizade desses dois irmãos é algo que vale a pena conhecer a qualquer tempo, e tal fato pode se dar através da leitura da longa correspondência que os dois estabeleceram até a morte de van Gogh. Nesse sentido, vale a pena ler o livro Cartas a Theo (editado no Brasil pela Editora Martins Claret) e também a correspondência de Theo para van Gogh.
Eu imagino que esse textinho vai ficar grandinho... rsrs Acho que é necessário falar sobre algumas passagens da vida de van Gogh para que se conheça e entenda certas peculiaridades da vida desse artista.
A questão é que há muita gente que gosta de rotulá-lo simplesmente como o “pintor que cortou sua própria orelha”. Mas um fato, por mais estranho ou mesmo singular que o seja, não faz nenhum homem integralmente. Todo ser tem sua história: e ela -- nós bem o sabemos -- sempre tem muitos fios dispersos...  Junto com outros elementos singulares, esses fios ditosos constroem tecidos essenciais para que compreendamos o todo... São as linhas e os pequenos pontos que, amalgamados, nos servem de veículo para um entendimento maior... E a história de Vincent está afinada a essa ideia... Há muito lirismo escondido em passagens pequeninas da vida sofrida desse gênio... Há muita beleza nos tijolos complexos que constroem a existência desse pintor de mundos multicores... Há muita singularidade que emerge da razão em cinzas, manifestada bela e incontestemente em suas telas... sua iconoclastia às avessas -- tão criadora.  E tudo isso, em um mundo muitas vezes tão frio, é importante ser conhecido.
***

Starry Night over the Rhone (Arles 1888)
A arte sempre fez parte da educação do jovem Vincent, pois vários dos seus tios eram comerciantes de arte. Nesse sentido, não é de se estranhar que, desde cedo, Van Gogh comece a trabalhar em uma galeria de arte. Foi em Bruxelas, na Casa Goupil, que ele começou aos 16 anos a trabalhar e a ter contato direto com a arte. Logo começou a formar sua própria opinião sobre tudo que estava ali. Através de intensas leituras e muitas visitas a museus, vendo o que era feito naquele momento (não podemos esquecer que a Europa naquele tempo era um verdadeiro caldeirão cultural, com movimentos e artistas surgindo por cada poro das cidades), van Gogh foi se dando conta do universo artístico de um modo muito particular.
Com 20 anos, Vincent é enviado para uma sucursal da galeria Goupil em Londres e ali sua vocação se desabrocha. Inúmeras horas são passadas em frente ao rio Tâmisa, e centenas de esboços são construídos, algo que, por incrível que pareça, entristecia o jovem van Gogh, que não conseguia identificar nada de concreto em seus rascunhos e tentativas.
 É por essa época, dizem os especialistas na obra de van Gogh, que começa a surgir suas primeiras inquietações e angústias. O sentimento de inquietação e desamparo tomam conta de van Gogh e logo tudo isso desemboca em sua situação profissional, fazendo com que o jovem seja despedido de seu emprego. A partir desse momento, a história de van Gogh começa a apresentar inúmeros baixos. Isso porque os altos, na vida desse artista, para ser bem franca, foram bem poucos. O fato é que van Gogh decide que quer ser um pintor, mas ele não podia deixar de ganhar a vida. Diante disso, como conciliar as duas coisas? Dedicar-se somente à arte não seria loucura? E como faria para sobreviver?
Segundo alguns estudiosos, é nesse momento que van Gogh procura um plano B, ou seja, dedicar-se à religião. Assim como seu pai, van Gogh resolve ser pastor. Contudo, sua preparação é mínima. Seu dom com oratória é inexistente, mas mesmo assim ele insiste. Despedido novamente, decide ser missionário entre os pobres mineiros de Borinage. Para tal, van Gogh vai à Universidade fazer o curso que era necessário para trabalhar nas missões. Depois de todo o seu esforço, consegue uma missão de 6 meses e, entre aqueles homens que trabalham dia a dia, noite após noite debaixo da terra, Vincent visita os doentes, os reconforta, lê para eles o Evangelho.
Os comedores de Batatas (Nuenen - 1885)
As impressões dessa época podem ser vistas em inúmeros quadros, onde o jovem retrata os trabalhadores, os camponeses. Vincent vai se mudando de uma cidade para outra, à medida que é necessário às suas missões, contudo, por mais que sua intenção seja a melhor, ele não tem o dom da pregação, e seu comportamento diferente acaba assustando outras pessoas (nessa época, van Gogh se entrega à devoção mística, passa a viver numa cabana de tábuas, dorme na terra nua, usa apenas um camisão de soldado, cuida dos doentes com tifo, despojando até das suas próprias roupas para ajudá-los). Diante da reação de várias pessoas, sua missão não é mais renovada e Vincent fica perdido.
É ponto patente que nessa época, em meados de 1879, Vincent passa pelo período mais sombrio de sua vida.  Na edição brasileira da obra Cartas a Theo, há um pequeno texto dos editores da obra que diz que, nessa época de sua vida, van Gogh caminhava “aqui e ali, sob o vento do outono, sob o vento do inverno. Dormia à beira dos caminhos, em celeiros, debaixo de carroças.” Vivia apenas do pouco dinheiro que seu irmão e amigo Theo enviava.
Pietà (depois de Delacroix) (1899)
Theo lhe dava forças, encorajando-o a ser o pintor que ele queria ser. Então é nessa época, apesar de todas as dificuldades, que Van Gogh resolve aceitar o seu caminho, a sua natureza, dando-nos, se assim posso dizer, a oportunidade de conhecer o seu trabalho genial e visceral. Em uma carta dessa época, Vincent expõe a Theo suas angústias, seus medos e suas esperanças. Theo, tocado pela força das palavras de Vincent, se compromete a ajudar o irmão porque confia e acredita em sua vocação para a arte. A partir daí a amizade dos dois fica ainda mais forte e a correspondência entre ambos só aumenta. Para se ter uma ideia, não se passa uma semana sem que os dois não se falem.
O bom samaritano (Depois de Delacroix) -- Saint-Remy - 1890
Vincent anda por vários lugares: Etten, Bruxelas, Paris, Haia, Antuérpia, e passa a pintar e desenhar sem parar. É tocante ver que muitas vezes Vincent preferia não comer para ter algo para comprar suas telas e suas tintas. O dinheiro era muito curto, mas ele conseguia se administrar para literalmente alimentar-se de arte. Trabalhando constante e freneticamente, van Gogh vai se desenvolvendo cada vez mais. Em suas viagens, ele busca com sofreguidão o aprendizado de novas técnicas: em Paris, por exemplo, passa seu tempo nos museus, especialmente no Louvre. Lá, procura se exercitar fazendo cópias de quadros de Delacroix, à sua maneira - é claro. Depois começa a trabalhar ao ar livre, à maneira dos impressionistas que ele tanto admirava. É nessa época que van Gogh conhece Gauguin, que ficaria célebre tanto por sua obra, mas também pelo famoso incidente da orelha.

Texto jornalístico da época sobre o incidente da orelha
Particularmente, eu já ouvi falar de várias versões do incidente da orelha. Uns falam em uma prostituta como um dos móveis propulsores do acontecimento. Há até um texto escrito pelo próprio Gauguin a respeito do fato: “Incidente da Automutilação de Van Gogh”. Mas o ponto comum em todas essas “lendas” é que van Gogh desejava que Gauguin se instalasse perto dele e que ambos fundissem seus estúdios – isso porque um dos maiores desejos de van Gogh era a criação de um atelier em que grandes nomes da pintura se reunissem.
Gauguin demora a aceitar, mas depois se muda para Arles. Contudo, ambos os pintores são muito diferentes um do outro. Suas opiniões são diferentes, seus anseios, suas tendências estéticas, tudo os separa. Vincent, que já tinha seus problemas com depressão, crises de angústia e até paranoia, na noite de natal do ano de 1888, se lança sobre Gauguin com uma navalha, mas sai correndo quando o pintor francês se volta contra ele. Ao voltar para casa, Vincent corta uma orelha e a entrega (segundo uma das versões) para o policial que vem à sua casa logo após o incidente.
Depois desse episódio, Vincent é conduzido a um hospício. Lá, suas crises oscilam, entre idas e vindas. Por perceber em si a falta de constância no que tange à sua saúde mental, Vincent acaba se dando conta que o melhor é se manter internado, até porque as pessoas que moravam perto dele não queriam-no por perto (há até, para fortalecer essa resolução, a criação de um abaixo-assinado por parte de sua vizinhança para mantê-lo internado).
O famoso Starry Night :: Noite estrelada (Saint-Rémy 1889)
Apesar de estar doente, van Gogh não deixa de trabalhar em sua arte, que a partir dali começa a apresentar contornos expressionistas. Vincent, em Saint-Rémy, passa momentos de dor, de desespero, de melancolia, de calma – e em nenhum deles para de pintar. Em janeiro de 1890 um fato curioso ocorre: um crítico de arte publica, no Mercure de France, um estudo consagrado sobre sua pintura (pela primeira vez a arte de Vincent aparece em uma publicação). No mês seguinte, van Gogh recebe uma carta de Theo: este diz que um quadro havia sido vendido: O vinhedo vermelho (o primeiro e o único quadro vendido enquanto estava vivo).
O vinhedo vermelho (o único quadro que foi vendido durante a vida de van Gogh)

Vincent's bedroom in Arles (1888)
The church at Auvers (Auvers-sur-Oise 1890)


Em maio de 1890, Van Gogh sai de Saint-Rémy e fica feliz por poder encontrar Theo e sua família. Na casa do irmão, revê seus quadros (que estão por toda a parte – até mesmo debaixo de móveis) e é visitado por alguns amigos. Posteriormente, Vincent se instala em uma pensão.
Os dias passam, e suas companheiras, angústia e melancolia, voltam a ter com ele... Diante da presença desagradável, Vincent que já estava cansado de todas as suas crises, numa tarde resolve ir para o campo. Estava atirando nos corvos, quando, na presença de suas desditosas companheiras e já sentindo que uma nova crise se aproximava, atira em seu próprio coração. Contudo, o tiro desvia e se aloja em sua virilha. Van Gogh não fala sobre o acontecido com ninguém e volta para a pensão. Mais tarde, algumas pessoas que estavam no pensionato, algumas delas encarregadas pelo médico de Vincent de cuidar dele, percebendo a sua ausência, resolvem ir atrás dele: encontram-no prostrado e sangrando dentro do quarto. O Dr. Gachet, seu médico e amigo de Saint-Rémy, examina-o e constata que é impossível tirar a bala. Solicitado a dar o endereço de seu irmão, van Gogh não o faz. E só no outro dia é que Theo é avisado do acontecimento.
Wheat field with crows (o último quadro)
Theo não se conforma com a possibilidade da morte próxima do irmão, mas não há mais o que fazer – van Gogh não deseja mais viver. Nesse dia, van Gogh conversa o dia inteiro com o irmão em holandês. À noite, Theo deita-se ao lado dele, velando-o. À uma da manhã, do dia 29 de julho, Vincent murmura “quero ir embora”, e morre.
Depois da morte de seu irmão, Theo ainda organiza uma grande exposição com algumas de suas obras. Contudo, atingido por uma paralisia, Theo é transportado para a Holanda e morre, em janeiro de 1891 -- como pode se ver, apenas alguns meses depois do falecimento de seu irmão. Muitos falam que Theo morreu devido à tristeza por ter perdido seu melhor amigo. Os irmãos cuja amizade tornou-se legendária repousam lado a lado em Auvers-sur-Oise.
Os túmulos de Vincent e Theo, em Auvers-sur-Oise, França

A viúva de Theo, com certeza, é uma das pessoas responsáveis pela arte de van Gogh ter sido divulgada. Após a morte de seu marido, ela passou a organizar exposições, mesmo com pessoas falando para ela destruir “o lixo” deixado por Vincent. Com as exposições acontecendo, algumas pessoas já começam, com o passar dos anos, a comentar a obra de van Gogh. Em 1896, seminários são conduzidos em uma universidade da Holanda acerca da obra de Vincent. Assim, com pequenas exposições a obra do mestre do amarelo, laranja, verde e azul vai sendo conhecida Europa afora.
Entrance to the Public Park in Arles (Arles 1888)
Retrato do Carteiro Joseph Roulin (Arles - 1888)
É interessante para fechar essa reflexão sobre a vida de Van Gogh trazer à tona o ano de 1946, quando uma exposição itinerante foi feita percorrendo a Europa, suscitando um enorme entusiasmo. Para se ter uma ideia, em Estocolmo, foram mais de 165 mil visitantes. Em Amsterdam, foram mais de 300 mil espectadores; 500 mil pessoas na Bélgica. No ano seguinte, em Paris, o público, dia após dia, fazia filas gigantescas a fim de apreciar a obra de Vincent. Mais de 150 mil pessoas vão ao Tate, em Londres, apreciar as pinceladas nervosas de van Gogh nesse mesmo ano. Nessa mesma época, uma exposição é organizada em Nova Iorque, para um público de mais de 300 mil. Depois, a exposição segue para Chicago. Em 1953, o centenário do nascimento de van Gogh é celebrado nos países baixos. Congressos, seminários, palestras são realizados a fim de se discutir a arte de Vincent. Em Haia, são expostas mais de 280 obras de Van Gogh.
Wheat Field with Cypress (Saint-Rémy 1889)
No ano de 1958, a obra Jardim Público de Arles é vendida por 132 mil libras. Anos mais tarde, em 1990, Van Gogh, que durante sua vida teve apenas um quadro vendido e que passou todas as privações possíveis para poder comprar suas tintas e suas telas com dinheiro que seu irmão conseguia enviar, foi o objeto da maior transação no mercado de arte até então: um dos retratos do Dr. Gachet foi vendido para um milionário japonês por 82,5 milhões de dólares. Depois da morte do japonês, o quadro desapareceu. Reza a lenda que o quadro foi cremado junto com seu dono.
Retrato do Dr. Gachet (Auvers-sur-Oise 1890)

Vista da praia de Scheveningen (Scheveningen 1882)
Meu "textinho" poderia abordar ou

Japonaiserie: Oiran (after Kesaï Eisen) - Paris, 1887

tras questões (eu nem falei da vida complicadíssima de Vincent no campo amoroso, por exemplo), aliás, penso que vai ficar por conta da curiosidade  de quem gostou da história de Vincent ir atrás de mais coisas. De qualquer modo, espero ao menos ter contribuído em algo com essas linhas. Fazer com que uma pulguinha se levante e suscite uma dúvida era o objetivo dessa junção de palavras aqui presente. E se tal coisa acontecer, outras pessoas terão a chance de conhecer muito mais desse fabuloso artista, indo atrás de outras informações.
Então, é isso: conheçam-no e, sei lá, procurem conhecer outros. Vale a pena ver como certas pessoas lidam com o nosso mundo por meio das canetas, dos pincéis, dos instrumentos musicais e de tantos outros pequenos objetos. Elas podem nos inspirar muito. A arte é inspiradora...

2 comentários:

  1. Paolita,
    Num dia dedicado ao seu ídolo da pintura lembrei que você poderia gostar de conhecer uma versão (belíssima) de um poema de seu ídolo dos versos, Fernando Pessoa:
    http://www.youtube.com/watch?v=ryqTYisCq3s

    Fomos a um show da Monica Salmaso e depois disso começamos a baixar os discos dela. Há, então, no disco Trampolim, a versão dela da versão que o Caymmi fez do poema do F. Pessoa - esta que está no link do youtube (ufa!). Bom, como a da Monica não está no youtube, vou te mandar por e-mail, porque acho que você vai gostar. Tenho em emocionado muito com ela. :)

    Beijos com muita saudade,

    Ane

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  2. Ane querida, eu conheci a Monica Salmaso por acaso - mas que voz! Confesso que não conheço muita coisa dela, mas tive a oportunidade de ouvi-la interpretando Chico Buarque (muuuuito bom!)... Eu estava procurando pela obra da Ceumar, e veio material dela, acredita?
    Quanto ao vídeo, puxa, Ane, que coisa linda... Muito obrigada pela lembrança! Que letra linda (sim, do Pessoa do meu coração!) e nas vozes desses "rapazes" maravilhosos... Lindo... Muito obrigada, de coração...
    Beijos com muita saudade também, fofinha!
    Não vejo a hora de ir te encher o saquinho em Ctba! =)

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